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ARQUITETURA SENSÍVEL E A CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS

Qual é a parte da sua casa que você mais gosta? De quais sons você se lembra quando fecha os olhos e pensa nos seus tempos de colégio? O seu bar preferido é mais escurinho e aconchegante ou mais iluminado e apertado?

A maior parte da nossa vida está ligada aos lugares que frequentamos. E esses ambientes dialogam com nossa rotina, influenciam diretamente naquilo que fazemos, no que pensamos, como nos sentimos e do que lembramos. Isso é tão significativo que seria ingênuo ignorar o papel decisivo da arquitetura na construção da própria vida das pessoas – com o perdão do trocadilho.

Olha o tamanho da responsabilidade. Mas, por outro lado, olha o tamanho do potencial.

Se a arquitetura apresenta soluções funcionais e estéticas para os espaços, vale a pena mergulhar na origem do termo “estética”, que vem do grego “aesthesis”. E adivinha: a palavra tem a ver com sentir, com experimentar o mundo pelos sentidos.

É por isso que precisamos falar sobre arquitetura sensível.

Toda arquitetura é sensível. Desde sempre. E é bem fácil de entender. 

Quando falamos em arquitetura sensível, estamos analisando as sensações, as emoções e as memórias que um projeto desperta nas pessoas. Ora, qualquer espaço que você frequenta ou observa vai lhe proporcionar algum tipo de reação, das mais variadas possíveis: do desconforto ao acolhimento, da apatia ao encantamento, do estranhamento ao desejo de voltar.

Todos esses sentimentos têm tudo a ver com os nossos sentidos e em como eles são estimulados pelos lugares em que frequentamos. Por isso é essencial entender como eles funcionam e de que forma a arquitetura pode explorar muito mais do que a visão, mas também o tato, a audição, o olfato e até o paladar.

Sala da presidência da MK Capital, em que trabalhamos com a mistura de sentidos: quase podemos sentir as diferentes texturas apenas olhando. A escolha das cores e materiais transmite autoridade e classe, mas com acolhimento.

A questão é: que atmosfera você quer criar? Qual sensação quer passar? Quais memórias pretende despertar? 

Naturalmente, estamos inclinados a pensar que os projetos devem essencialmente apresentar soluções para as finalidades técnicas e funcionais dos ambientes, dentro do orçamento disponível. Mas até mesmo com budgets mais enxutos temos a obrigação de dar grande atenção à experiência sensorial dos usuários. Afinal, a arquitetura sensível pode inclusive oferecer possibilidades narrativas que vão tornar um espaço, mesmo aqueles aparentemente triviais, em um local com mais significados.

Pare para pensar: os espaços arquitetônicos tendem a abrigar a maior parte das ações humanas. Logo, não faz sentido encará-los apenas como um palco para elas. Trata-se, na verdade, de um componente essencial dessas interações, como conclui a pesquisadora Rosângela Furtado Mac Dowell. As construções geram estímulos que influenciam na rotina e nos hábitos das pessoas.

Ou seja, não faz sentido ignorar todos esses aspectos. Nem mesmo o fato de que cada detalhe pode ajudar ou atrapalhar estratégias de negócios, gerando ou não valor institucional.

No laboratório The Blend, na fábrica do Boticário, uma experiência sensorial de encher os olhos e mexer com os sentidos. Os visitantes assistem à extração do óleo que dá origem ao perfume e podem sentir os diferentes aromas que compõem a fragrância.

Pensando nos sentidos 

Isso quer dizer ainda que planejar a maneira com que um ambiente vai dialogar com os cinco sentidos de seus usuários não deve estar restrito a uma fase posterior, de decoração e paisagismo. Claro, essa discussão é também sobre beleza, mas ela vai ainda muito além: é sobre sentir.

A qualidade da arquitetura está justamente no equilíbrio das dimensões funcional, tecnológica e simbólica, como explica a pesquisadora da área Maria Lúcia Malard.

E é justamente por isso que o raciocínio deve estar presente o tempo todo na cabeça de arquitetos e arquitetas, trazendo à tona os conceitos sensoriais desde os primeiros momentos de qualquer projeto.

Mas se é tão importante, por que então deixamos de levar em conta esse cuidado? 

Essa resposta pode ser complexa, mas está muito relacionada à padronização – desde normas técnicas até conceitos estéticos. Muitas vezes opta-se pelas soluções menos desafiadoras, as mais simples e de fácil reprodução, a fim de evitar maiores debates e ter a falsa impressão de ganho de tempo ao propor ideias que enchem os olhos, mas pouco sensibilizam.

Em tempos de relações humanas mais frias e automatizadas, a arquitetura pode e deve desempenhar um papel fundamental ao estimular o olhar, o toque, a audição e o olfato. Enfim, de tornar a rotina das pessoas em narrativas mais significativas, proporcionando experiências, sensações e memórias.

E tenha certeza: inúmeras marcas e empresas se apropriam desses detalhes para ocupar um lugar especial na lembrança das pessoas. Afinal, ambientes também comunicam.

Na cidade de Belém, criamos o projeto da Faculdade Inspirar utilizando materiais e referências culturais da cidade. A experiência com madeira, cordas e lampião, além de explorar o imaginário de alunos e professores, gera também um senso de pertencimento.

Criando harmonia e pertencimento 

Para alcançar essa sintonia entre pessoas e lugares, entre lugares e cidades, é necessário muito estudo, busca de referências, olhares atentos e uma equipe multidisciplinar curiosa e disposta a ouvir e imaginar. Entrevistas e workshops são etapas muito importantes para compreender os anseios e as dores de quem vai utilizar os ambientes. É essencial entender que é a partir dos indivíduos – e para eles – que os projetos devem ser pensados. Sem esquecer dos objetivos e estratégias de curto, médio e longo prazo das empresas envolvidas.

Aqui na A9, nossa especialidade é criar ambientes cativantes e atmosferas acolhedoras, pois entendemos que essa é a forma mais poderosa de gerar conexões verdadeiras entre espaços, marcas e pessoas. Por isso, os projetos que desenvolvemos são cuidadosamente pensados para despertar emoções. A cada m2, encontramos soluções que encantam, em um equilíbrio sensorial valioso para aguçar os sentidos.

Do contrário, como muito bem salientou o arquiteto e professor finlandês Juhani Uolevi Pallasmaa, “quando a arquitetura perde seu contato com a base mental essencial, ela se torna um exercício vazio de técnicas e estética”.

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